Crise e Futuro da Igreja
2023-03-24T15:14:36-03:00Antonio Spadaro, SJ
A Igreja tem futuro? Qual é a relação da Igreja com o tempo, isto é, com sua história? O risco de uma “colisão” ao se responder a essas questões é elevadíssimo – seja de colidir com uma visão meramente sociológica, seja colidir com uma análise pura e abstratamente ideo-teológica, quer dizer, a ideologia da “juventude” da Igreja ou de sua “fortuna e progressos magníficos” em tempo de crise. “A ideologia – advertiu um dia o papa Francisco – não chama. Jesus não se encontra nas ideologias. Jesus é ternura, amor, doçura, mas as ideologias, de toda orientação, são sempre rígidas”
A ideologia é rígida, mesmo a da juventude perpétua. Parece a alguns que nosso mundo esteja deixando de ser cristão: como se pode falar da juventude da Igreja? A insignificância parece ser a condenação, e falamos de futuro? Debatemo-nos, muitas vezes, entre tradicionalismo e modernização, mas não saímos disso. Certamente, um dos graves problemas da Igreja de hoje é aquele que o papa, com um neologismo, definiu, várias vezes, como um “indietrismo” (retrocesso, recuo), uma “moda” que conduz não a “extrair das raízes para seguir adiante”, mas a um: “indietrismo que nos faz seita, que fecha, que tira os seus horizontes” e faz você guardião “de tradições mortas”² .
A verdadeira questão é: se o Evangelho não fosse proclamado, faltaria alguma coisa de essencial para a vida humana?”
¹¹ FRANCISCO, Homilia em Santa Marta, 17 de outubro de 2013.
² ID., Discurso aos participantes da conferência “Linhas de desenvolvimento do Pacto educativo mundial” promovido pela Congregação para educação católica, 1.º de junho de 2022.